4 de mar. de 2008

Estudo em Antropologia Urbana I:


*C A D U


Inaugurando essa série de posts de reflexões acerca dos estudos em antropologia urbana, trago a baila o capitulo “esquinas sagradas” de Vagner G. da Silva, do livro “a metróplole” ,organizado por um dos grandes nomes da antropologia urbana no Brasil, o Prof. Magnani. A grande questão do trabalho é se o desenvolvimento urbano seria um obstáculo ou impedimento ao pensamento mágico.


Tendo como objeto o desenvolvimento do Candomblé na cidade de São Paulo, o autor conclui que a magia e a cidade são conciliáveis, evidentemente através de uma série de ressiguinificações. Basta um caminhar cuidadoso pelo centro de SP para perceber que advinhos e consulentes – e até mesmo as entidades invocadas - não se constrangem com o adverso cenário urbano.


Além disso, percebemos ao cruzar esquinas, parques ou perto de cemitérios, inúmeros despachos. Ou seja, de diversas formas, a presença do sagrado das religiosidades afro-brasileiras já são parte do cenário urbano. O trabalho busca entender como o Candomblé vem se constituindo em São Paulo.


Num resgate histórico, o autor nos lembra que o crescimento do candomblé foi concomitante aos crescentes fluxos migratórios do nordeste brasileiro, região que o candomblé teve maior desenvolvimento. Contudo, não consiste apenas de uma transposição geográfica, lembra o autor que, “O candomblé foi se formando em São Paulo em constante diálogo com a cidade, seus valores, símbolos, possibilidades e restrições” (Pág.96). Convocando seus deuses, para esses também, habitarem a metrópole.

Os terreiros paulistanos se multiplicam por toda a metrópole, e não é concentrada na chamada periferia, podem ser totalmente adaptadas as limitações materiais e espaciais, ou contar com uma infra-estrutura perto da ideal. No caso dessas adaptações, o autor nos dá um claro exemplo: “Se no terreiro não há espaço para os assentamentos dos deuses que são cultuados em altares externos, então eles serão recolhidos em um quarto”(Pág 101).

Mas existem algumas limitações, de ordem natural e próprios de uma metrópole - que exige maior flexibilidade dos terreiros, mais especificamente os cultos aos orixás na cidade, afinal alguns precisam de água, como Iemanjá ou Oxum e a presença de espaços aquáticos naturais na metrópole é uma dificuldade. Outro problema é a colheita de certas ervas necessários aos rituais. Espaços de florestas com ervas naturais são praticamente inexistentes, o que faz os membros a recorrerem a adaptações, como o uso de folhas secas comercializadas em casas especializadas.


Além dessas folhas, o candomblé precisa de espaços de mata ou floresta, também bastante difíceis. Lembra o autor que o Candomblé teve que se desenvolver na cidade elaborando estratégias para a carência de folhas sagradas e de espaços de mata. Assim, “A substituição do bosque sagrado operada pela religião na ressiguinificação de árvores, praças, jardins, lojas etc. faz-se num contexto em que prevalece a cidade, sua paisagem, seus limites, suas injunções” (pág111)


Concluindo, percebe-se que o candomblé ao mesmo tempo em que se posiciona com uma religião de características próprias é capaz de resolver problemas de todos os tipos, inclusive mais específicos da vida urbana, e ainda faz uma reeleitura de sua estrutura ritual em função das exigências do desenvolvimento urbano, estabelecendo estratégias para sua legitimação, divulgação e crescimento, inclusive com o uso dos meios de comunicação de massa.


Da Silva, Vagner Gonçalves. As esquinas Sagradas. In: Magnani.J.G. Na Metrópole. Edusp,1996.

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